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Humbê, Hungebe
Humbê, Hungebe

 

HUMBÊ E HUDJÈ 


Temos visto, em vários fóruns de estudo sobre a cultura afro-brasileira, muita pessoas perguntando sobre o que é o Humbê. Temos visto também, explicações que não têm nada a ver com a realidade do Humbê.  Por esse motivo, resolvemos esclarecer esse assunto, dentro do que nos é permitido.

 

 
   Humbê é o segundo maior segredo da nação dos Voduns, aqui no Brasil, denominada Jeje ou Djedje. Toda pessoa feita em Jeje deveria receber o Humbê, porém alguns pai/mães de santo optaram em dar esse fundamento à alguns filhos somente após esses fazerem por onde merecer recebê-lo pois, como sabemos, infelizmente, as pessoas hoje mudam de casa, raíz, pai/mãe de santo como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Somente aqueles que percebem a importância, o valor de uma família, de uma raíz, são merecedores de receber o Humbê, pois esses jamais sairão de suas casas e, principalmente, da nação Jeje.
 
     Não podemos aqui descrever o Humbê, apenas podemos dizer que é um axé pertencente única e exclusivamente a nação Jeje e que fica muito bem resguardado dentro do Templo dos Voduns.
 
     Já ouvimos e lemos pessoas dizerem que Humbê é o mesmo que Oyè da nação Ketu, isso é, a expressão "Tomar Humbê" seria o mesmo que "Tomar cargo". Já vimos inclusive pessoas da própria nação Jeje fazerem essa afirmação. No Jeje a expressão "Tomar  HUDJÈ" é a correta para se dizer que a pessoa está tomando cargo.  Cremos que, o fato da grafia das duas palavras como também a pronúncia serem muito parecidas, gerou toda essa confusão.
 

 

     Quem passa por um Humdémè, um Humbê e um Agêuntò, nunca abandona a nação Jeje e jamais revela esses segredos para alguém, salvo para seus descendentes. Aquele que falar, com CERTEZA não tomou HUMBÊ.


HUNGEBE:
KWE SEJA NEJI

 O humgebê é o fio de contas sagrado da nação Jeje. Ele representa o elo entre o orum e o aiye. É o fio de conta da vida e da morte, símbolo do próprio céu, do mundo espiritual, invisível e transcendente. O céu cósmico particularmente em suas relações com a terra.
     Somente vodunsis recebem o humgebê. Temos visto ogans e ekedis usando erradamente o humgebê. Quando o inciado torna-se um vodunsi, ele recebe o humgebê pois acaba de nascer no mundo do santo. Quando o vodunsi morre, o humgebê o acompanha. Ele nos liga ao orum, nos traz o orum e nos leva de volta ao orum.
     Temos observado, no Rio de Janeiro, erroneamente, algumas casas de Jeje darem o humgebê aos seus filhos somente na obrigação de sete anos. Cabe aqui uma pergunta de uma velha Doné de Salvador ao relatarmos esse fato: - "Oxente!!!! Vocês no Rio só nascem aos sete anos?".
     A preparação de um humgebê é igual ou maior que a feitura de um Vodum, inclui obrigações, currans, zandros, etc. Há necessidade também, de alguns preceitos de humdemê. O poder do humgebê ultrapassa a mente humana. Ele sempre nos avisa quando vai acontece algo de muito grave na vida daquele vodunsi ou no kwe. A voz do humgebê está num grande segredo da nação Jeje.
     Cada humgebe confeccionado pertence àquele vodunsi e, em hipótese alguma, pode ser usado por outra pessoa ou tocado.
     Quando um humgebê arrebenta, ele tem que passar por todo um processo especial para ser reenfiado.
     A confecção de um humgebê segue características rígidas. Deve ter a quantidade certa de miçangas entre os corais e seu fechamento também é um só. Não se fecha humgebê com contas na cor do santo do yao e sim como um segui, como temos visto em alguns candomblés. Também observamos humgebês enrolados no pescoço, atitude que quebra todo o seu significado sagrado. A quantidade de corais que compõem um humgebê, ao contrário que muitos pensam, não é fixa. O comprimento de um humgebê varia de acordo com a altura da pessoa, devendo sempre estar um pouco abaixo do umbigo.
     Em alguns segmentos Jeje encontramos o humgebê composto por dois seguis, um no fechamento e outro no meio, o que também é correto.
     O humgebê é composto de contas, corais e segui. O coral é a "árvore das águas", participa do simbolismo da árvore (eixo do mundo) e do simbolismo das águas profundas (origem do mundo). Sua cor vermelha aparenta com o sangue. Segundo uma lenda grega, o coral teria surgido das gotas de sangue derramado pela Medusa. O simbolismo do coral tem tando a ver com sua cor quanto com a rara particularidade que tem de fazer coincidir, na sua natureza, os três reinos: animal, vegetal e mineral. Devemos lembrar também, do simbolismo guerreiro da cor vermelha.
     Como símbolo da árvore da vida e das águas profundas, faz o elo entre a vida e a morte. Sua cor vermelha é o símbolo universal do princípio de vida, com sua força, seu poder e seu brilho, cor do fogo e do sangue. Representa não a expressão, mas o mistério da vida e da morte. Um lado seduz, encoraja, provoca; o outro lado alerta, detém, incita à vigilância. Este é, com efeito, a ambivalência do vermelho do sangue profundo: escondido ele é a condição da vida; espalhado significa a morte.
     O azul do segui, é a mais profunda das cores: nele, o olhar mergulha sem encontrar qualquer obstáculo, perdendo até o infinito. É também a cor mais imaterial e fria e, em seu valor absoluto, a mais pura, à exceção do vazio total do branco neutro. O conjunto de suas aplicações simbólicas depende dessas qualidades fundamentais.
     Aplicada a um objeto, a cor azul suaviza as formas, abrindo-as e desfazendo-as, desmaterializa tudo aquilo que dele se empregna. É o caminho do infinito, onde o real se torna imaginário, um pouco como passar para o outro lado do espelho.
     O azul não é deste mundo, sugere uma idéia de eternidade tranquila e altaneira que é sobre-humana.
     É também a cor da verdade. A verdade, a morte e os deuses andam sempre juntos e é por isso que, a cor azul também é o limiar que separa os homens daqueles que o governam, do Além, seu destino. Há também um simbolismo de castração, imposição e de um longo sacrifício, um certo heroísmo, embutido no azul do segui.
     Como podemos observar, há uma enorme simbologia religiosa e cósmica no nosso Hungebê

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